7. "Olhares franceses sobre dois anos de revolução"
See the localization on the mapFrança entusiasmou-se pela revolução que estava a decorrer em Portugal, particularmente durante os acontecimentos cruciais que marcaram os dois anos de transição (1974 a 1976): a queda da ditadura no 25 de abril de 1974; os primeiros passos para o fim do império português; a demissão do general Spínola da Presidência da República a 30 de setembro de 1974; o golpe de Estado falhado de 11 de março de 1975 que radicalizou a situação política e militar; o verão quente, que fez temer uma guerra civil; a retoma do poder pelos moderados a 25 de novembro de 1975; as eleições legislativas de 25 de abril de 1975 e 1976 e as eleições presidenciais de 27 de junho de 1976.
Durante o verão de 1975, a maior parte dos diários franceses publicavam manchetes praticamente todos os dias sobre Portugal: Le Figaro, Libération, Le Monde, L’Humanité, Le Nouvel Observateur, Paris-Match.
O "caso" de 11 de março
“Primeiras consequências do caso do dia 11 de março”, telegrama de 12 de março de 1975
Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros – MEAE/200QO132
Desde o dia 12 de março, o Embaixador Durand identifica as primeiras consequências do golpe de Estado falhado do dia anterior, fomentado pelo General António de Spínola. O Embaixador sublinha o facto das forças políticas da esquerda radical (Partido Comunista e extrema-esquerda) criarem uma certa confusão na imagem dos partidos centristas (PPD e PS) para tentarem desqualifica-los apesar dos mesmos terem condenado, no entanto, a tentativa de golpe de Estado.
L’Humanité – 12 de março de 1975
Memórias do L’Humanité
No dia seguinte ao golpe de Estado falhado do dia 11 de março, o diário L’Humanité publica uma manchete “Portugal, fracasso do golpe de Estado” com uma fotografia da mobilização popular junto aos blindados do MFA.
Libération – 12 de março de 1975
Libération
Com a manchete “Putsch esmagado em Portugal: caminho aberto para a revolução” no dia seguinte ao fracasso do golpe de Estado de 11 de março de 1975, o Libération escreve que as forças reacionárias estão desqualificadas, deixando o campo livre para as forças que querem prosseguir com a revolução.
Carta do Ministro francês dos Negócios Estrangeiros ao seu homologo norte-americano Henry Kissinger – 25 de março de 1975
Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros – MEAE/200QO132
Depois do golpe de Estado falhado do dia 11 de março, o Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, encarrega o seu Embaixador em Portugal de avisar o Presidente Costa Gomes sobre o risco que representem os comunistas, e convida os Ministros dos Negócios Estrangeiros de vários países aliados a intervir numa forma semelhante junto do Chefe de Estado português. Na sua resposta a Henry Kissinger, o Ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean Sauvagnargues, recusa esta proposta com o motivo de que as autoridades portuguesas iriam considerar tal situação como uma ingerência.
O Verão Quente
Cunhal, Soares e o MFA – 22 de julho de 1975
Caricatura de Jacques Faizant no Le Figaro
Durante o “Verão Quente” de 1975, a imprensa francesa de todas as vertentes políticas publica manchetes quase diários sobre a situação em Portugal. É o caso, nomeadamente, do Le Figaro e do seu famoso caricaturista Jacques Faizant, com o seu humor mordaz. Nesta caricatura, representa as três principais forças: o MFA, o Partido Socialista com Mário Soares e o Partido Comunista com Álvaro Cunhal. Este último procura aproximar-se do MFA e manter os socialistas afastados deste. Jacques Faizant imagina assim Álvaro Cunhal vestido com um traje militar a dizer que “a política é um assunto demasiado sério para ser deixada aos civis”.
Mitterrand carrega com Soares – 25 de julho de 1975
Caricatura de Jacques Faizant no Le Figaro
Nesta caricatura de Jacques Faizant, François Mitterrand carrega com Mário Soares para que possa chegar a um quartel militar, ou seja ao MFA, sem o conhecimento de Álvaro Cunhal que presta continência vestido de militar. Mário Soares procura assim contrariar a influência dos comunistas junto do MFA.
Paris Match – 23 de agosto de 1975
© Paris Match
O Paris Match dedica uma grande reportagem a Portugal durante o “Verão Quente”, marcado por uma vaga de violência anticomunista no centro e no norte do país.
Le Monde – 28 de novembro de 1975
© Le Monde
No dia 25 de novembro de 1975, confrontos violentos opõem várias unidades militares. As unidades sob o comando de Ramalho Eanes (futuro Presidente da República) que pertencem ao campo moderado vencem as forças ligadas à extrema-esquerda. A situação mantem-se confusa durante vários dias de tal forma que o Le Monde espera até o dia 28 de novembro para publicar na sua manchete “O fracasso da revolta militar em Lisboa”.
Este dia marca o fim da efervescência revolucionária e permite aos moderados, civis e militares, expulsar a extrema-esquerda militar, personificada por Otelo Saraiva de Carvalho, e favorecer assim a instalação de uma democracia pluralista.
O acompanhamento das eleições
Libération – 28 de abril de 1975
Libération
No dia 25 de abril de 1975 têm lugar as primeiras eleições livres, o voto com sufrágio universal é alcançado pela primeira vez em Portugal de forma a eleger uma Assembleia Constituinte. Muitos observadores esperem um resultado alto para o Partido Comunista, no entanto, é o Partido Socialista que fica à frente com quase 38% dos votos. Para o diário dirigido por Serge July, “Portugal votou para o ’25 de abril’”.
Le Figaro – 27 de abril de 1976
© Le Figaro
No dia seguinte às eleições de 25 de abril de 1975, o Le Figaro sublinha a complexidade da situação política em Portugal apesar da vitória do Partido Socialista. E Jacques Faizant ilustra, à sua maneira, a desilusão de Álvaro Cunhal, cujo partido obteve um mau resultado eleitoral (12.5% dos votos).
Le Monde – 29 de junho de 1976
© Le Monde
O Le Monde publica uma manchete sobre a vitória do General Ramalho Eanes nas eleições presidenciais e anuncia a formação de um primeiro governo socialista liderado por Mário Soares.
Nota do Ministério sobre as eleições presidenciais portuguesas (1)
Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros – MEAE/200QO138
Numa nota de 30/06/1976, a Subdireção da Europa do Sul do Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros comenta os resultados das eleições do dia 27 de junho de 1976 em Portugal. A Subdireção acha que a vitória de António Ramalho Eanes se explica pelo “desejo da população de um regresso à ordem, que ele personifica”. A nota conclui ao considerar que “as bases da democracia portuguesa estão agora instaladas”.
Nota do Ministério sobre as eleições presidenciais portuguesas (2)
Ministério francês da Europa e dos Negócios Estrangeiros – MEAE/200QO138